Saturday, July 31, 2004

Será que não pensar é a saída?

"Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta;", disse-o Fernando Pessoa, na pessoa do, na minha opinião, mais genial dos seus heterónimos, Alvaro de Campos.
De facto, estes três pequenos versos dizem-me muito.. E se pensarmos realmente bem chegaremos à fácil conclusão que a muitos de nós também. A diferença entre essas pessoas e eu é que eu penso realmente nesse tipo de coisas. Será que não pensar é a saída?
Passo dias matutando em querendo arranjar uma saída pra esta angústia, por muitos vista e interpretada como psicose escusada e de espécie nefasta. Porém, penso que nenhum de nós, que se assuma como racional, gosta de estar em sofrimento permanente. Já muitas vezes, brincando com colegas meus, disse que tinha o síndroma do palhaço, parafraseando a sensacional frase dita por João Melo : uma simpatia e alegria por fora a tentar esconder o profundo sofrimento e dor interior. Não interpretemos isto como sendo esquizofrenia nem hipocrisia desmedida. Nada disso! Faço-o inocentemente, porque acho que as pessoas não têm culpa da minha má aura ou mau sentir. O que quero e desejo é fácil e toda a gente o sabe, mas duvido que o mundo esteja preparado para me dar, pelo menos de quem quero. É certo, que muitos são os que do meu lado me apoiam, mas o que é um ser humano senão alguém que busca constantemente a perfeição?
Na vida há três coisas essenciais: viver, amar e ser amado. Tenho a primeira. Tenho, talvez, a segunda. A terceira é uma lacuna constante.
"Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu."
... mas nem por isso sou mais valorizado ou entendido.
Se calhar, não pensar é mesmo a saída.
Apenas eu: Hugo.

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