Sunday, August 06, 2006

Pedaços

Sempre que sorrio uma pequena parte de mim chora. A parte daquilo que já fui verga-se perante a constatação e manifestação do síndrome do palhaço, ou a simples indagação de uma felicidade forçada. Sinto-me levado por um estigma só Meu. Aquele pedaço de brisa que nos toca no Ocaso do Dia, hoje feriu-me os olhos levando as mucosas a reagir. Rio-me por chorar, e choro rindo. Que faço afinal?
Sinto-me mais míope que um cego e talvez mais perdido que um alguém que conhece onde está o Tesouro. Apalpo-me como se estivesse sem tacto e ouço-me como se estivesse sem voz. Infelizmente, agora nada mais posso dizer do que aquilo que não sei e sentir aquilo que nunca senti, porque o que sinto me fere as pálpebras e me apunhala pelas costas.
Amanhã o dia vai nascer com os tons do Nada do Costume. A vidinha costumeira do dia-a-dia em que as pseudo-metáfora idealista afloram, afirmando cabalmente a irremediável rota da Felicidade. Pena que os lírios apregoados das pseudo-metáfora hoje murcharam no calor sombrio de uma trépida tarde de Verão que me queimou as estranhas e me deixa aqui como um peregrino sem Santo.
Preciso achar a rota de Mim mesmo. Perceber os toques do meu Tacto, perceber como Olhar, como Ser, como Ouvir aquilo que a prolífera voz da urbe me canta como sereias acenando ao Longe. Míope na Vida, mais não me resta do que ouvir o Canto como se de um Surdo sem cura me tratasse. Às vezes, tamanha lucidez das palavras que vomito, fere-me a Alma, como se a lucidez que pregue me ficasse impregnada até à exaustão e me levasse até a um estado de moribundo vivenciado, por entre as felicidades alheias.
Porquê? Porquê o mesmo trilho seguido com pessoas que são diferentes? Porquê a rotina dos toques e dos sentidos de Vida? Porquê o mesmo Destino em tudo o que faço?
Hoje, fecho-me na pétala da flor que criei e habito-me no meu casulo para que hoje não me possam ferir...
Mais uma vez hoje, tenho-me apenas a mim mesmo...
Habitar-me-ei nesta noite trépida, árida de um sentido aceite.
Apenas um árido de Vida, apenas eu, Hugo

3 Comments:

Blogger Bruno Moutinho said...

O síndrome do palhaço... Não penso que seja correcto sorrir se não existe em nós qualquer razão para o mesmo. O que nos leva a fazer isso são as outras pessoas, talvez por não desejar-mos dar parte fraca ou para nao preocupar ninguém.
As cores do nosso "Amanhã" dependem de nós. Podemos ter tons cinzentos, negros ou coloridos, ou então uma tépida luz de cores suaves que nos fazem sentir bem. Tudo depende da forma como lidamos com nós próprios. Só tens duas alternativas, ou fechas-te em ti mesmo e consomes o gosto salgado das tuas mágoas ou então limpas e olhas para a vida, procuras o teu caminho e libertas-te das correntes que te prendem os sentidos. Sei, falar sempre foi fácil, mas não será, ainda assim, a segunda opção a mais correcta? Pensa nisso. Que adianta viver do medo que nos consome a alma de que alguém nos volte a magoar? A vida é mesmo assim, é preciso correr riscos, sem esses não teremos o seu doce e fresco fruto.
Pensa nisso... Pensa que a vida só é complicada porque nós a complicamos... Sim, falar é mais fácil que agir, mas ao menos não vou deixar que o silêncio tome conta de mim, não vou ficar de braços cruzados perante uma dor que, mesmo não sendo minha, magoa. Talvez porque sou estúpido, dirias tu ou tantos outros, uma vez que o problema não é meu. Não é por pena, é por gosto em ajudar, é pelo gosto de ver os outros felizes.

Abraços

5:48 PM  
Blogger Bruno Moutinho said...

Á parte de todo este texto, é só para dizer que está fantastico em termos de escrita e conteúdo. SAbes que sempre gostei da tua escrita, nem vale a pena perguntar :)
Continua

5:52 PM  
Blogger psychotic said...

Há claramente uma reviravolta no conteúdo dos teus recentes textos. É notória a negrificação devido ao término de um relacionamento que supostamente tinha alicerces anti-corrosão...
E isso é assustador...

Como te percebo a mágoa (por outros motivos)...

7:53 PM  

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