O Tempo das Nossas Horas
Lá fora era Verão. Corria o mês a seguir a Junho do ano cuja capícua era 5002. Acordava a urbe alfacinha, por entre uma brisa de calor, por entre Pessoas que se me cruzavam. Tinha-Te deixado algures na metrópole num dos Campos, o maior deles por sinal, e vagueei por uma cidade que não conhecia. Parei num sítio onde uma estátua de bronze me acenou e entrei.
Lá escrevi-te isto que hoje relembro e apelido de minha obra-prima:
"Era inevitável. Vim parar ao sítio onde se Deus quiser, irei passar horas quando o meu corpo for apenas um resto íngreme daquilo que já fui: a Brasileira do Chiado. Lá fora, numa das mesas está quem me dotou de dogmas e sentidos, nexos e verdades que ainda hoje estão bem frescas na minha mente.
Começo lentamente a sentir uma dor, que "dói" mesmo antes de a sentir. As mucosas enchem-se de lágrimas, que tanto quero não derramar, num dia soslaio e radiante como o de hoje. Da vida que deixei no Porto há três dias, de nada sinto falta. Falta-Me quem deixei no Campo Grande.
Dói-me cada pedaço do tempo que se vai escorrendo entre os meus dedos, como se de grãos de areia se tratassem. Dói-me o silêncio da minha boca com que falo agora, dói-me a alma por ter de deixar o que não quero deixar aqui, sem mim, pois como o sentes (e eu que o diga) és indubitavelmente cada vez mais parte de mim. Os meus olhos no espelho talham a letras douradas este meu doloroso silêncio entre pessoas que conheci hoje e possivelmente não mais na vida irei ver.
Sou, pelas ruas de um Chiado habituado a ver em livros e páginas de Internet, um vagabundo de uma saudade que começa a desabrochar, antes de a ausência tomar forma. Sou, pelo silêncio de uma manhã frenética, um alma entre almas que vagueiam num sentido a que chamo Rotina, perdendo o rosto por entre um Multidão sem Nome.
O Destino, hoje mais que ontem, anseio por alcançar. Tocar-Lhe, Senti-lo, sentir que finalmente O alcancei, perder-Me no seu Infinito. Tenho de inventar uma forma de acelerar os ponteiros do relógio para anestesiar a Alma, que tanto vai doendo.
Sou, pelas mesas de um café semi-vazio, um homem cada vez mais maduro, com cicatrizes na Alma que o vento jamais levará e um homem cada vez mais apaixonado por Ti [ Tenho, subitamente de parar de escrever porque se me enchem os olhos de lágrimas e um homem chorar em público, nos dias que correm, é sinal de fraqueza ou pobreza de espírito].
Sou fraco. E agora? Condenem-me. Enclausurem-me na minha masmorra, bem lá no Alto, para que daí com o mais radioso dos olhares te possa beijar todos os dias. Não, não posso chorar. Não choro de tristeza, mágoa ou simples rotina, que tanto critico e me enoja, antes porque dói o que sinto mesmo antes de sentir. Receio que quando as rodas do autocarro, que me levará de volta à minha tão querida cidade do Porto, começarem a andar, todas as janelas se fechem para me não ver passar. Tenho medo que o calendário deixe de avançar e o tempo se cristalize, parado, estagnado, e dolorosamente preso a um "tempo" que não nos pertence ainda. Quem não entende o que sinto por entre a tinta desta caneta com que borro este papel, tente arrancar de si o que mais valioso tem e encontrará aí a resposta mais cabal e trivial.
Não, "mor", não sou fraco. Nem pobre de espírito, descansa!
Choro, porque te amo, porque te quero, porque a minha vida não faz sentido sem ti [Tenho de parar outra vez].
Gostava de ter o dom de matizar indelevelmente a brisa da manhã no teu rosto, aquela que nos abraçou quando abrimos a porta da Rua e saímos para este dia, como dois peregrinos à procura do seu trilho. Gostava de ver quão linda fica a tua face quando os primeiros raios de Sol de uma qualquer Manhã te tocam. Se alguém um dia quiser entender estas palavras, o que nos une, aponta-lhes para o Sol. Tal como Ele os Ilumina, é nosso Amor que nos alimenta.
Sou, a metros da Pessoa cuja vida mais admirei, um vagabundo de um sentimento que me trouxe até ti (vens-me de novo à Ideia: o teu gesto meigo, a maneira terna como me falas, a maneira como me olhas, o teu Toque, ...). Se possível fosse colocar parte deste sentimento, aqui, nesta folha de papel, muito possivelmente as batidas aceleradas deste Meu (TEU) coração que por Mim (Ti) bate (e há-de bater sempre), não te deixariam ler o que aqui, no canto mais escondido da Brasileira, numa simples e banal folha de papel, imortalizo.
Sou, entre as brumas e fragmentos escondidos da Alma, um homem apaixonado... por Ti! Entre o Sol e as Nuvens, alguém que vive por Ti! Entre a espada e a parede, um guerreiro que lutará por Ti até ser Sombra. Perdido no Oceano, o mais belo coral que alguma vez verás.
Vivo, aqui no Silêncio, gritando por Ti! Os meus olhos, de que tanto gostas, esses, não param de falar e de me envergonhar, agora que o café fica mais cheio [Páro, novamente].
Não devia chorar. Há o dogma de que os homens não choram e,pensando bem, porque choro eu se te tenho? Choro, porque tenho um bilhete de "VOLTA" e não sei quando terei o de "IDA", novamente na mão. Choro, porque ouço o motor do autocarro, porque vejo na minha mente a placa "PORTO 299" e, progressivamente, placas com números cada vez menores até estar fisicamente longe de Ti até à exaustão. Tenho o estômago fraco. O meu interior está numa tubulência que disse a mim mesmo que não iria sentir, quando vim. Mas o coração fala mais alto e por muito que a Razão seja forte, os olhos são a parte mais fraca do corpo: não deixam rédea e margem de manobra à Mentira.
Sou... EU! O que devia ser, mas não é... O que devia estar, mas não está... O que devia ter, mas não tem... O que te quer e há-de Ter. Talvez esta seja a maior lição de vida que algum dia terei. Acredita, que desde o Momento em que na minha Vida começou a haver um "Nós", uma luz ao fundo do Túnel se acendeu. Vi que o Horizonte, afinal, tem um cor que a luz Negra me não deixa ver, e que a vida afinal não é um castigo que tenho que viver.
Sou, tão teu, tão teu, tão teu... Era capaz de escrever isto em todas as paredes que o meu corpo toque, se através disso pudesse acelerar o relógio, mudar o calendário e colocar o que sentimos na brisa do beijo que te darei quando estivermos escondidos entre as Nossas 4 paredes, para que os olhares não nos roubem o Sentido.
Liguei-Te agora. Estou super, hiper surpreendido. Mais uma vez, adivinhaste o que estava a fazer. Sem dúvida alguma, és a Pessoa da minha Vida! Pequenos pormenores são estes que mostram que fomos feitos um para o outro. O que não sabes, até este momento, é que já fiz o que não gostas que faça: chorar. Eu sou assim. Choro para disfarçar o rosto e tonificar as pestanas e não porque me magoas [Minto... Na parte das pestanas].
Invejo o mais trivial da tua vida. A roupa que vestes, a cama onde dormes, a cadeira onde te sentas, o copo onde bebes, a televisão de onde vês o Mundo, tudo até ao mais banal. Invejo, porque mesmo sem vida essas coisas te têm à distância de um Toque. É aí nesses mais pequenos pormenores que a tua Alma é grande, estupenda e única como nunca vi. Toda a tua esfinge, o teu rosto, as tuas mãos, cada vez que me tocam imortalizam-me na solidão de um tempo que será o Nosso. Nosso nas alegrias, nas façanhas, na Felicidade que estou cada vez mais certo iremos alcançar, lado a lado, vendo o Teu Outono passar, vendo o Tempo a pôr humidade nas paredes e cabelos brancos nas nossas cabeças e, então, seremos por entre todos os Guardiões de um Templo do qual só Nós teremos a Chave, os mais felizes deste Mundo.
Estou certo, de que estamos a escrever o mais radiante dos livros de Vida e que, apesar de anónimo, o nosso exemplo poderá perdurar pela História, como que clusterizado numa duna por nós vagueada. O Teu tempo de sofrimento, dor, e pânico chegou ao Fim.
Sabes pelo que me conheces, que darei a Vida por Ti se necessário for, que irei ao Fim do Mundo para Te encontrar se a Vida te me tirar, que serei o Companheiro de Jornada, o Amigo, o Grande Amor da Tua Vida, a cada badalada que um qualquer relógio antigo dê.
Calem-se as almas que possam preconizar o nosso Fim. Nada será capaz de abalar a tenacidade dos nossos beijos, a cor dos nossos sorrisos, os olhares cumplices e cheios de afecto que conseguimos trocar no Silêncio.
Eu e Tu, construiremos uma Cidade maior do que Alexandria, mais imponente que Constantinopla, mais adorada que Paris, com o toque e mística de um Porto tão sentido, por entre as ruas de uma Lisboa tão linda.
Teremos na brisa da manhã o alvorecer de mais um Dia de Felicidade, juntos, cada vez mais juntos e simbioticamente ligados.
Vou-me levantar. Vou pensar. Ou simplesmente andar vazio, estando Cheio, pelas ruas desta cidade que quero Minha, enquanto aguardo o teu sinal para voltar... para os teus braços.
Vou esquecer o barulho dos motores e as placas. Vou esquecer o Oriente. A dor só é dor quando é sentida e não quando é pensada. Mas hoje, aqui e agora, dói-me a dor.
Amo-te!
Apenas eu, Hugo!
Lisboa, A Brasileira, Chiado, 10:05, 29-Julho-2005 "
Ainda hoje aguardo o teu sinal para voltar... para os teus braços e fazer com que as palavras sejam a Verdade e não a Utopia.
Novamente, apenas eu, Hugo, um qualquer Hugo, ainda apaixonado por Ti!
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