Monday, September 26, 2005

Elogio da loucura


Quatro paredes podem dizer muito a quem pensa. Podem mostrar a quem sente que o sofrimento da vivência está delimitado a uma área circunscrita, que as dores de um passado mal vivido estão perpetuadas num tique-taque que já passou e definitivamente afundadas num mar distante daqui.
O Sol brilha para quem não o vê. Ofusca-se a si próprio, não querendo ser visto, ele que deveria orgulhar-se por ser visto por todos. O Céu venera-O como a um Imperador e ainda assim ele protege-se de quem o vê, fechando-se em copas. Será que algum dia verei o Sol?
Serei algum dia capaz de alcançar a idade de um sopro de vento e ser feliz por entre uma manhã coberta de um sol radiante? Vivo-me por entre os acidentes de percurso, fingindo nada ser comigo. Minto, mais uma vez. Nunca a triste sina dos meus dias foi tão vincada como nos dias que correm em que a efeméride se me afecta como os ares que respiro. Não consigo ficar imune ao pensar, ao conjecturar, ao opinar sobre o que faço e penso e quero da vida. Mas ainda assim fico pior comigo mesmo.
A ambição de vida deve ser bem medida para que não se torne na maior desilusão que o Mundo conheceu. Vejo-me a braços por ruas, ruinhas e ruelas de um Porto sentido, pensando se terei o discernimento e capacidade de atravessar o Ocaso de uma Vida que considero minhas, com a certeza cabal do Dever Cumprido. Por entre as sombras de mais uma nuvem que passa, vejo-me a envelhecer e perdendo a rigidez nas linhas do rosto e a ser mais uma vez levado para sítios que a razão humana tem ainda dificuldade em explicar.
Ao cair da Noite, vejo-me vadio encalhado num cais onde a Tormenta é Rainha. A Imperatriz da Solidão visita-me sempre que as minhas pálpebras são mais fortes que a Vontade. Sou, por momentos, renegado para o abismo de um sonho cruel, por entre as tempestades de areia da Mente, que me ferem os sentidos e molestam a minha aura. Vivo espelhado num Céu que ninguém vê, com pensamentos que ninguém tem, com ambições que nem Alexandre, o Grande, teve.
Vivo-me, sinto-me e quero-me e por entre uma loucura lúcida, sou impávido e sereno o mais teimoso e tenso de entre os vagabundos de um desejo. Desejo a lucidez eterna, a fabulosa sabedoria e a imortalidade sapiente. Sinto o escorrer da humidade por entre os dedos, sinto os cabelos brancos brotarem-me na cabeça, sinto a derradeira gota de sangue correndo-me nas veias, motivada por uma razão que desconheço.
Hoje, vivo-me, aqui e agora... Sem saber se amanhã, o Sol se deixará ver.
Apenas eu, Hugo!

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