Thursday, July 14, 2005

Será?

Dou por mim, nas noites quentes de Verão, a enganar a vontade, a fazer de conta que o vazio não habita e que a Vida é a mais fantástica das realizações.
Dou por mim envolto em paredes de argila que se desmoronam no silêncio de um escuro que me asfixia e me remete para a pequeneza triste do que sou.
Gostava de ter o dom de enganar a Vontade. Fazer de conta que afinal tudo não passa de mais um dia que terminou inexoravelmente numa noite que parece ter fim, mas até numa noite de Verão podemos ter frio. Tenho o corpo árido de desejo e a alma gelada como um glaciar. Talvez a maior das compsturas nos remetesse para o sono, mas não, hoje não durmo.
Dou por mim a fixar-me em planaltos de dor e em torturas melancólicas que me levam longe, bem longe no pensamento. Talvez onde a idade do tempo perca o sentido, eu me ache envolto da mais plena e sensata lucidez. A lucidez talvez seja como estou agora, quem sabe. Estar acordado numa noite escura e saber a verdade. Saber que afinal, lá fora,a noite vai escura mas iluminada mostrando ao meu pequeno mundo que afinal o "dark side of the moon", afinal também tem luz.
Deixo-me invadir pelo meu lado negro. O lado que tanto e tanto tempo tem passado comigo moldando-me a face, afastando o sorriso e enchendo as mucosas. O estigma de querer,às vezes, remete-nos para vontades que o próprio corpo não consegue delapidar dada a sua constante necessidade.
Tenho hoje a certeza de muitas coisas que julgava serem as mentiras mais futeis que outrora tivera conhecimento. Houve e felizmente há, quem me mostre que afinal há vida dentro do espelho. Mas e fora dele? Continuaremos a recusar-nos olhar-nos no espelho tendo medo que alguém de dentro esteja a ver? Será?
O amanhã levanta-se em tons de cinzento, matizando uma noite me leva longe, mas tão longe, que não chegariam eras para pôr no papel. Talvez a evolução caminhe no sentido de fazerem papéis com sentimentos. Talvez aí as palavras que escrevo brotem do papel e representem fielmente aquilo que me vai na alma.
Vou tentar enganar a saudade, o desejo, evitar a loucura e o desespero e dizer a mim mesmo, que se calhar o mundo não acaba amanhã.Mas... será?
Se ele acaba amanhã, então viverei hoje por ti, desejando que o hoje nunca mais acabe...
Apenas eu, Hugo!

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

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