Silêncios
Calei a madrugada com um estalo.
Senti por entre as forças de um vento de Norte, a saudade a bater-me nas entranhas e senti a força de mil horizontes penetrarem-me os sentidos. Vi, no calor da noite, a sombra triste da loucura que me abunda, o murmurio latejante de um medo que não tem rosto, a tristeza profunda de um sentimento que não quero meu. Saio de mim como quem sai do comboio para mais um dia de rotina incessante. Saio de mim como quer mais do que viver-se. Saio de mim como um amanhã que se levanta, mergulhado no silêncio de mim.
O amanhã aparece nos buracos da janela como uma luz ao fundo do túnel, como a vanguarda que me anseia, como o limite para o que sinto, quero e vou ter um dia. Lá fora, os ruídos banais de gente banal, misturam-se com os ruídos fúteis de gente fútil. Eu, aqui e agora, sofro por entre lágrimas de cristal que me eternizam o rosto e me põe cada vez mais sentido no tempo.
Misturo-me, no silêncio de um Mundo, por acidente ou introversão, e mergulho num abismo de um qualquer mar, com nome por inventar. Ali, nas catacumbas de um sentimento que me fere, sinto-me mais ferido que um soldado na frente de batalha, mais desgastado que a cinza do tempo, mais retardado que um relógio sem pilha. Sou ali, por momentos, uma sombra de uma imagem que quis minha e fecho-me nas copas de um jasmim, mal nsacido.
Pergunto, ainda hoje, a razão que nos faz vir ao Mundo. A razão que nos faz ser, nos faz sentir, nos faz ter metas, pensar em alcançar algo. Na banalidade da trivialidade encontro o prumo, mas não a lógica. Que tipo de rumo é este que sabemos o desfecho, ainda no início? Que prumo é este que exige o sacríficio para a obtenção da Felicidade? Que prumo é este que nos tira do tacto, o que a alma almeja?
Conjecturas metafísicas que entre os silêncios de um Mundo, que jorra ruídos, mas que não se sente, não me vê, ou que definitiva e indubitavelmente me virou as costas, deixando aqui, cadáver adiado, vivendo a minha tormenta, por entre silhuetas de esfinges banais, ocas e condenadas ao fracasso ou á futilidade de sobreviver, sem sentido, rumo ou meta.
Não! Eu não deixarei que os dias do calendário sejas percorridos, mas antes vividos, sentidos, conquistados e acima de tudo, justificados. Nada me levará a deixar o que quero, o que almejo, aquilo que me faz o sangue correr nas veias, por entre os silêncios de gente banal.
Afinal de contas, há silêncio no ruído, se a mensagem é nula!
Apenas eu, Hugo!
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