Vertigem
Vertigem é o nome com que te olho de cima, sem te ver. Talvez a miragem da grandeza do que foste ou a simples constatação da tua pequeneza.
Dou por mim a pegar em folhas de papel vazias de mensagem num amontoar de letras que escreveste. Pergunto-me sobre o que quererão dizer, se serão alguma coisa ou apenas mais um pedaço das tuas meias coisas.
Vejo um papel cheio de pedidos e de vontades para um futuro, esse futuro que anseias por virar as costas nesse teu modo sui generis de enfrentar as coisas com o ar de criança e atitudes de adulto muito vivido. Olho e vejo o turbilhão daquilo que penso esmorecer-se por entre os toques que se não sentem. Hoje, nem te conto a trivialidade pois nem isso mereces e talvez a palavra que te disse seja pouca perante a imagem que vais ocupando em mim.
És talvez o Oásis que secou. O deserto que se tornou árido, quando a grandeza do Ser se esgotou para se entregar à complexidade vivencial, ou simples indagação de um viver mais subtil, menos valorizado, ou simplesmente mais Teu. Ainda hoje dou por mim a pensar no que serás. Se serás a Pessoa dos quases, dos ses e das coisas falhadas, por entre palavras ditas ao vento e promessas que nunca serão cumpridas. Será a Vida o Teu Banquete? Serão as Pessoas a Tua toalha de Mesa? Ou não saberás simplesmente o que queres?
Contei-te a metáfora da Alice no País das Maravilhas, um dia algures no tempo e ainda hoje te sinto assim: qualquer caminho serve porque não sabes o que queres. É-te complexo sentir, viver, sentir, dar, receber, e tudo o mais que envolva a partilha e somente tenho pena que as coisas que penso sirvam para te ver como a Pessoa que tinha tudo em Si e não era mais que a miragem dos olhos, o sentir dos sentidos, a falsa falácia das mentiras das palavras que disseste, escreveste e disseste sentir.
Hoje, dou-me a Ver-te como um relógio de cuco, apitando a cada vez que o teu ser me faz faísca. E até aí, me vejo a Ter-te não Tendo por toques que não tenho, nem quero. Porque a Vida me quer, e porque não sabes o que queres da Vida. Talvez a lástima do que És redunde no absoluto desdém que de mim provém, por entre as incoerências de Vida, as Mentiras, as Tristezas e coisas que fizeste de maneira menos clara.
Hoje, pego na mais árdua rocha e atiro-a à parede para que te caia em cima e te tire de Mim de vez, para que a boca que abres e beijas outros, não mais profira as lanças que usas e as mentiras que protelas.
Hoje, a revolta gela-me o Ser. E eu mesmo me vou cristalizando a cada minuto que passa neste relógio de pulso. O tempo que seria das NossasHoras, passou a ser o Tempo dos Teus Desvarios, das Tuas Loucuras, e dos Teus Banquetes.
Gelo-me, cristalizo-me e fecho-me nas copas do meu baralho, para que nenhum Ser me provoque este sentimento que me corrói. Para que não mais alguém seja capaz de me desiludir de Morte e colocar em Mim a coisa mais horrorosa que alguma vez senti: o Desdém.
Hoje, o olhar-Te dá-me Vertigem. O falar-Te aterroriza-me. O sentir-te não sei, porque perdeste-me. Sim tu perdeste-me e talvez de nós os dois, quem sairá mais a perder serás inequivocamente Tu.
O tempo de crescer estará aí.
O tempo de sentir também.
O tempo de me hibernar também.
Até que alguém tenha a força de derreter o iceberg em que me tornei...
Hoje, num noite de Verão, mais gelado que um iceberg, apenas eu, Hugo!
2 Comments:
Penso que não te deves fechar só porque a vida te foi injusta. Pensando bem, a vida nunca foi justa nem nunca o será, quem o disse, mente. Faz parte de nós, sentir a dor de alguém que nos fez sofrer. Mas é mesmo assim, temos que erguer a cabeça e seguir o nosso caminho. Não adianta fecharmo-nos na frieza do medo de sermos magoados mais uma vez, isso só nos destrói e corrói aos poucos. Já to tinha dito, mas isso, será uma escolha tua, algo que terás de ser tu a fazer.
Bom post, sempre gostei da tua forma de escrever.
Abraços
Tocante.
És sublime nas palavras que escreves. Adoro as metáforas que constróis, a expressividade literária que tens, a sensibilidade que caracteriza a tua personalidade.
Prevejo a inclusão de uma nova frase na minha memória a longo prazo: "Até que alguém tenha a força de derreter o iceberg em que me tornei...". Fizeste-me ter uma visão que nunca me percorreu a imaginação.
A qualidade transborda nas tuas obras; estou profundamente entusiasmado com a descoberta deste blog. Acho que finalmente encontrei um refúgio de verdadeira lucidez pessoal. Parabéns.
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