Sunday, August 13, 2006

Regresso

Fui embora de mim. Tirei o bilhete de ida para uma qualquer estação a que ainda hoje não cheguei. Pergunto, no emaranhar dos meus botões se sei, de facto, que destino é esse que abracei e ainda não alcancei. Vejo nas estradas o Sol que queima os dedos e no olhar o mais vazio vagabundo que me entorna a tristeza na pele.
Parei no sítio onde a Vontade que me levou e deixou sozinho. Talvez, aqueles restícios de adrenalina que nos toma conta da pele e do desejo quando julgamos sucumbir, se confunda com o restício macabro daquilo que às vezes chamo de Eu. Sinceramente, hoje estou aqui como se tivesse desertado de uma qualquer guerra, onde todos se safam e só eu regresso a casa ferido umbilicalmente condenado à mais atroz das dores.
Enclausuro-me em casulos de coisa nenhuma, para que a borboleta desponte, mas até o casulo hoje vem putrefacto de dor e desolação, essa que me está colada à esfinge e daqui não sairá jamais. Remeto-me a olhar a trivialidade do dia, onde as cores do arco-iris se misturam com o triste e macabro tom do cinzento da minha pele, por entre lágrima que despontam do verde dos meus olhos. O mesmo verde que outrora simbolizava a esperança, aqui e agora, simbolizam a minha dor, a dor de quem pensa demasiado no Pensar e se afunda como um barco construído para servir de ensaio.
Acordo todos os dias com as toneladas dos dias em cima da barriga, esmagando-me, moendo-me, triturando-me as estranhas desde o primeiro momento em que dia tomou a cor, seja ela qual for. E até aí, no primeiro dos instantes, as lágrimas me arrobatam a porta da alma e me violam constantemente a Alegria que queria ter. Entre sonhos e miragens de um regresso ao que não sou, dou-me a sentir as peças que faltam, num puzzle inacabado, por frases e olhares que não se esgotam no Tudo e não completam no Nada.
Brutal, a evidência de um Regresso ao que não sabemos. Trivial, a dor de sentir. Jucosa, a alegria daqueles que encaram a vida sem derramar as lágrimas, ou deixar ir ao sabor do vento, aquilo que o mesmo vento lhes traz. Sinto-me a aniquilar aquilo que tenho de bom, a congelar todos os pequenos fragmentos que dantes dizia ser um de um Hugo muito eu, e gelo-me todos os dias um pouco mais, com temperaturas altissimas lá fora, e eu aqui hibernando, congelando, chorando, matizando, assentindo-me (não me conseguindo sentir- neologismo meu) e sofrendo por não ser mais Eu e ser apenas o projecto que ficou no papel amachucado que coloquei no balde do lixo.
Regresso a Mim, como se não tivesse ido a parte alguma.
Provavelmente, não terei ido nem vou a parte nenhuma, enquanto não souber o que de facto sou, sinto. O que quero lê-se-me nos olhos tão claro como uma manhã qualquer de Agosto.
Apenas eu, Hugo!

5 Comments:

Anonymous Anonymous said...

como me identifico com as tuas palavras.
de vez em quando metome a pensar quem sou eu,e se alguma vez cheguei a ser eu, ou ainda, se alguma vez me senti realmente eu!
cada dia que passa sintome mais perto do que sou...mas será que já estou quase a alcançar-me?sinceramnete não sei, e duvido que alguma vez o venha a descobrir!
os meus parabens por um blog tão bem construido e escrito!
BEIJO

4:05 PM  
Blogger Bruno Moutinho said...

Nesta viagem a que chamamos vida, parti-mos desde cedo em busca do conhecimento próprio, daquilo que somos e porque o somos. Ao longo da nossa viagem eterna vamos descendo em várias estações que nos vão dando algo de novo. Há aquelas que nos magoam e outras que nos dão alegria. Não te deixes levar apenas pelas que te deram a tonalidade cinzenta de uma alma magoada, acredita, um dia voltarás a ter a cor de outros sonhos e desejos, a cor da fantasia, a cor daquilo que te fará sentir bem, querido, especial, que te fará encontrar o teu "EU" e os mesmos desejos que nele trazes escondidos.

A esperança, ouvi eu dizer, é a última a morrer. Acredita na réstia que levas contigo, nesses teus olhos, os olhos que agora só conseguem sentir a dor, mas que um dia poderão jorrar lágrimas, sim, mas lágrimas de alegria.

Bom post, gosto muito de ler aquilo que escreves, mesmo sendo o conteúdo triste, por reflectir um pouco do teu estado de alma, é de uma beleza fascinante.

Abraços

4:23 PM  
Blogger SigurHead said...

Devia haver um interruptor por cada sentimento que nos fere. Tudo seria mais facil. Lembra-te cada passo teu é diferente de outro mas a tua rua ha muito que é sempre a mesma. Só tu poderas mudar a direcção e achares o teu sentido. Amigo falar é facil eu sei. Pensa somente um pouco nas minhas palavras. Eu sei que não sou nenhum exemplo. Tb eu vivo eternamente a espera de um comboio que nunca passa.

5:02 PM  
Anonymous Anonymous said...

Olá Dark Hugo! Não tenho jeitinho nenhum para isto...
Os sentimentos foram feitos p serem sentidos por isso aproveita!
Apesar de gostar de ler este blog fico mto contente por saber que na realidd n és assim...
Já um sábio (!?) rapazito dizia: "Carpe Diem com Futuro".

4:00 AM  
Blogger Hugo Vieira said...

Ás vezes, dá-mo-nos aos outros na exacta medida da imagem que queremos delas. E, tenho vezes, em que sou diferente das palavras que escrevo. Mas ninguém consegue escrever com nitidez aquilo que não sente. Tudo parece vazio e inconstante e de uma incoerência brutal, que penso que as minhas palavras não mostram. Sei que as palavras não as ideais e muitas são as vezes que vejo pessoas a darem-me os conselhos da vida perfeita, o corrigir das frases. Mas não se tome como presunção o que digo, pois não se trata disso, antes as palavras que digo não são para ser corrigidas. Antes pensadas e interiorizadas. O meu obrigado pelas pessoas que o lêm. Apenas eu, Hugo

8:35 AM  

Post a Comment

<< Home