Saturday, November 04, 2006

Ares do Sul


Todos os toques e olhares que ficaram presos no adeus, jazem na lembrança do que poderia ter sido. O simples adeus que não se teve, esbarra na indiferença daquilo que vai existindo em cada madrugada de um escuro, que põe pó nas paredes das casas.
Vêm-se as ruas esburacadas, onde os corpos se perdem na vontade das noites velozes, em que os pêndulos das miragens de um SER mais completo se partem no marcar do passo mais incapaz que alguma se foi tendo.
Diante mim, o sonho, a vontade, o Destino de um caminho que ficou a meio, ou simplesmente não se soube completar jamais.
Vou-me sendo, emburcado nas entranhas daquilo que vou abarcando a cada inspiração, não pensando naquilo que vou expirar. Vivo-me como um trocadilho que não encontrou a rima, naquela esquina do Chiado, onde as paredes parecem desabar e o Mundo se torna mais pequeno.
São os tique-taques de uma Igreja perdida na Baixa, que me acordam a alma para o sentir. Aquele sentir, cuja definição se perdeu em miradouros e extractos similares, de uma cidade veloz e alienada, de sentires complexos, naquele pedaço de chuva que se apanha quando a Alma está demasiadamente despida para se guardar.
Aqui, diante, de uma paisagem que pintei outrora, vivo-me como personagem de um livro por inventar, perdido nas ruas e encontrado nas vielas, matizando os toques, valorizando os odores e perdendo-me até onde os sentidos me levam.
Vi, através dos olhos com que abraço o Mundo, a esfera que envolve Lisboa. Aquela esfera que faz com que esteja iluminada vinte e quatro horas por dia, como que se de um Ser alado se tratasse. Porém, qual luz ilumina aquilo que não tem luz? Que luz é essa que ilumina o que não é iluminável? O que é ter Luz?
Sei-me, não me sabendo, tentando saber-me todos os dias. E todos os dias me sei menos. Talvez, por não ser suposto saber-me. E, mesmo assim, tento Ser hoje mais que ontem, e sentir-me mais completo que aqueles puzzles, cuja peça final se perdeu, no virar da esquina, num dia de vento frágil, esse mesmo que lança a noite sobre os telhados.
Trago-Me, nos olhos, e Perco-Me nos dedos. Perco-me para me encontrar...
Mas não me encontro, senão atolado na gélida Vontade de sentir o que não quero, na imensidão de um Vento gélido... e frágil...
Apenas eu, um portuense-lisboeta, Hugo

1 Comments:

Blogger Bruno Moutinho said...

Lisboa tem os seus preciosos encantos, mas é preciso saber vivê-los, sem a agonia de existir.
Gostei muito do teu texto. Já tinha saudades ^_^

Abraços

4:39 AM  

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