Tuesday, October 05, 2004


Quis, desejei e tentar incessantemente ser aquilo que os outros me indicavam ser o caminho a seguir. O não pensar, o não exacerbar os sentimentos e mais importante que isso, não encontrar no pensamento algo mais intenso que o próprio sentimento, mas não consegui. Como se de rotina, inabalável e completamente inflexível, se tratasse, a minha tão ténue e nefasta alma como se dirige para um abismo. Quis ser Caeiro, como me indicavam a dedo. Viver, não pensar, existir, não relevar, ser, não existir. Mas nada disso se revelou proveitoso. Dei por mim novamente numa panoplia de sensações adversas e nefastamente incomodativas que me faziam reabrir o meu buraco negro. Vejo hoje aquilo que não quero e infelizmente sinto aquilo que alguns condenam por não ser o mais normal. Por vezes, à luz de quem profere juízos valorativos é mais fácil amar quem se deve amar, do que enveredar "pelo amor que não ousa dizer o nome". Tenho conhecido pessoas tremendamente fantásticas, algumas de elevada categoria, outras que nem para me dizer um simples olá teriam nível que chegasse. Luto, day by day, tentando obter dos que eu considero amigos, um reconhecimento, um olá, um sorriso, uma maneira meiga que me encha a alma de contentamento e de relevação categoricamente feliz. Amo em silêncio pelas ruas de Verão, o silêncio onde me escondo e tento ser feliz, escondido dos olhares profanos e dos dedos que me apontam como fazendo algo de errado. Aos amigos nada direi, nunca, pois seria condenado á nascença e seria, obviamente, o fim da minha já complikada espécie existencial. Queria ser eu, quero ser eu. Quero ser eu a abrir fronteiras, a existir per mi, e a ser aquele alguém que tem notoriedade pelo que é e pelo que faz e não pelas gajas que come, ou pelos copos que bebe. Quero acima de tudo sair desta vida com a consciência cabal, de quem viu e venceu e não com esta azia constante de quem vai sobrevivendo e não vai obtendo de cada dia a satisfação que poderia obter. Ouso invocar e pensar em quem não devo. Ouso querer ser, quem a sociedade condena. Ouso conjecturar sobre um futuro que não domino e me traria a rendição e o desprezo dos que mais estimo. Por isso Caeiro, tenho inexoravelmente que te rejeitar, porque de nada vale sentir se não puderes do sentimento extrair, por mais ténue que seja, uma lição para a vida. "O amor que não ousa dizer o nome", se calhar, será a minha saída para poder ser feliz, sem os olhares tremendos que me hão-de condenar e sem a mínima chance, condenar-me ao exílio numa vida, onde vivo exilado. Apenas e, cada vez mais, só eu: Hugo! Posted by Hello

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