Tuesday, August 17, 2004

Dizem que o meu gosto doentio por ler coisas acerca de Fernando Pessoa me torna uma pessoa cada vez mais fechada em mim mesmo e cada vez mais melancólica e que dá valor aos aspectos mais singelos e pouco relevantes para a maioria. Vi hoje que, apesar de as coisas serem assim triviais para quem as aprecia, não é assim tão trivial para quem as ouve. Normalmente, tendemos a valorizar os nossos amigos quando eles existem e dão mostras que nos querem bem. Há os casos, também, em que essa intenção é meramente teórica. Impressiono-me com as mensagens quando alguém acaba de ler o que escrevo aqui no blog. Todos me dizem que faço uma tempestade tremenda num copo de água mas se virmos bem o contraste entre as acções dessas pessoas que se me dirigem comparando á ídilica demagogia que imanam quando lêm vai uma tremenda e inesgotável distância. Dou por mim assim sozinho num mundo que me oprime e me quer mal por ser assim, um mundo fechado em quatro paredes que tentam suprimir-me e entalar-me inexoravelmente sobre uma tábua rasa, metaforicamente simbolizando a triste evidência da minha vida. O mundo que construi aos poucos da mesma maneira que surgiu, se vai esfumando ao tilintar dos ponteiros do relógio como que fazendo questão de se fazer notar. Esta triste evidência, que narro constantemente, que alguns apelidaram de "pelágio" ( sim, há quem pense que o que escrevo é copiado de algum lado... enfim), corrói-me a alma, molesta-me os sentidos e muda a maneira estrita de olhar pela janela de manhã. Já pensei mais que uma vez em acordar um dia, despedir-me dos que mais estimo (ainda que a estima possa não advir na mesma moeda) e embarcar numa barca rumo a um Mar Distante. A Morte, em múrmurios escondidos, por mim há muito desejada talvez seja a única maneira de ser valorizado e alcançar finalmente a paz que tanto busco. Talvez aí a minha alma finalmene serene e possa depois de morto ser valorizado pelo que sou agora, pois costuma-se dizer que quando as pessoas morrem é que ganham especial significado. Tenho imensas dúvidas sobre se alguém podia vir a sentir algo relativamente a isso. Mas as coisas devem seguir o seu rumo e não interromper o curso normal delas, ainda que a hipótese se me passe pela cabeça. Vivo numa tristeza de alma e de espírito semelhante à do Campos intimista. Vivendo, sobrevivendo, avaliando, constatando e concluindo que a minha foi, é e não será mais do que um enorme fiasco e um acumular de tempo de sofrimento e angústia que passei. Os amigos que tive trocaram-me pela novidade; os amores que tive largaram como se joga uma peça de roupa na cama; a minha família olha hoje mais para o seu umbigo do que se calhar para um dos grandes garantes da sua própria existência. Existir não mais faz sentido para mim. Para mim, isto não é viver em perfeita harmonia e felicidade para com tudo. Isto é sofrer, querer e não ter, mudar e não metamorfizar, esconder e não mostrar. Apelo aos deuses que acabem com a minha dor, que me levem para longe e que me mostrem que o traste que sou, pode um dia ser louvado e desejado, seja por quem for. A paz eterna alcança-se quando o coração bater pela última vez. Cada segundo que passa é um segundo adiado para eu alcançar essa mesma paz. "Não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada". Apenas eu: Hugo! Posted by Hello

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

"Deus quer, o Homem sonha, a Obra nasce...todos temos um proposito e é por isso q estamos aqui. Se acreditares q todas as "obras" de uma ou de outra forma têm algo a cumprir durante a estadia da vida então veras que o mundo que te oprime é tambem aquele que mais de ti precisa.

11:40 AM  

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