Thursday, August 12, 2004

Megulhei no abismo!

Olhei para o céu numa noite estrelada e nada vi senão um mero e sombrio fundo preto. Estaria somente a ver a minha alma?
Conclusões tristes de quem nada tem. O que nos valoriza como pessoa e ser humano, se é que o que disse não é uma e uma só coisa, é a grandeza da presença dos nossos amigos. A questão essencial dos meus nefastos, para alguns, pensamentos prende-se com o facto de, actualmente, não poder ver-me como pessoa importante numa esfera alheia. A importância da amizade cinge-se a uma relação recíproca e não meramente unilateral. Mais que uma pessoa, ontem , depois de ter lido aquilo que escrevi, me disse "Ah eu até sou teu amigo". Sim, concordo plenamente e não desminto nem ponho em causa qualquer delas... O cerne da questão aqui reside na grandiosidade dessa amizade enquanto medida, meramente, pela importância que tenho. Eu explico-me.
Não quero nem nunca quis ser, epicentro seja de que espécie for. Simplesmente acontecimentos de um passado, se calhar, demasiadamente recente levaram-me a valorizar demais e exacerbadamente a presença constante de alguém a meu lado, não estritamente em termos relaccionais mas também como ombro amigo.É envolvido neste contexto que se insere a questão do irmão que quis e nunca tive. Não quer isto dizer que as pessoas~, algumas, não são minhas amigas. Fugiria completamente à verdade se o afirmasse de maneira tão cabal. Também não é menos verdade que, se calhar, algumas pessoas até tentam incomensuravelmente estar mais próximas de mim. A questão é que sei de antemão que certas e determinadas pessoas pela própria vivência e conhecimento que já têm comigo têm mais probabilidades de saber entender as minhas paranóias e desvarios. Há, no entanto, também aqui, algo de relevante a ser retido: não se entenda isto que escrevo ou que venha a escrever nem como crítica nem como ultimato ou recado para alguém porque não se trata disso nem nunca há-de ser esse o propósito. Muitos menos foi este blog criado como meras divagações filosóficas ou como escape de sentimentos não sentidos que ficam bem no papel. Nada disso. Escrevo aqui para passar para aqui o que sinto, o que sou, o que me apoquenta e não servir propósitos que não estes.
Mergulhei num abismo! Num abismo tão grande e escuro que me levo a perguntar o porquê de lá ter caído e porque é que não saio. O Porquê de não ser um irmão para ninguém no estrito sentido da palavra. O Porquê de ter sido augurado um futuro tão brilhante e redioso e agora esse mesmo futuro ser escrito num passado e não num presente. O Porquê de as coisas que idealizei e cheguei a ter me terem escorrido pelos dedos como água que corre fugindo de mim. O Porquê de ter sempre o que não quero e não ter o que desejo. O Porquê da minha situação deprimente e constantemente só.
Provavelmente, como Pessoa disse, ele próprio fez mais filosofias que o próprio Kant. Não me comparo ele num tenciono fazer filosofias mas provavelmente já esteja a um nível de um Piaget ou de um Kuhn ainda que com uma diferença umbilical: enquanto eles são construtivistas, eu sou destrutivista, face a metáfora!
A noite consegue, no entanto, ser boa conselheira para mim, ainda que teimosamente me vá esmagando com as suas insónias. Dou por mim, às vezes, desejando fechar os olhos para dormir e assim ficar para o resto dos tempos. Ao menos as pseudo-psicoses e crises teriam um fim e quem narasse a minha história mais tarde nada ou pouquíssimo teria a registar: não foi nada, nem nunca havia de ser nada - haveriam de dizer.
Apenas eu: Hugo!