Monday, February 05, 2007

Linhas



As noites perderam os rumos dos dias...

As linhas traçadas dos horizontes, em que os raios de Sol cintilavam como os cristais que nos matizam o olhar, parecem hoje vidros fuscos de uma insipidez grutesca e suja. Paradoxos e adjectivos perdem-se no ar, quando preciso do olhar que me valorize, e apenas levo os gastos olhares de esfinge, por entre portas de alma entreabertas, deixando abertas aquelas fissuras que um Alguém deixou por sarar.

Sou hoje a linha que teima em não ser recta. Aquele prumar de prumos aprumáveis, na inaprumável estupidez da minha vidinha. Aquele esboço do que podia ser, sendo e querendo ser a cada momento mais e melhor, mas em que os comentários são facas e setas afiadas rumo a um peito apalpitável, numa assentível dor que teima em não sarar.

Os puzzles deram lugar a quimeras. Os paradoxos a utopias. As linhas rectas a obliquidades insanáveis, que prefiro apagar com as borrachas da Vida que teimo em trazer tatuadas nos dedos. Os nevoeiros que teimam em queimar-me a pele, são os mesmos estigmas que me ferem os dedos, limitando-me o sentir, roubando-me aqueles sorrisos que gostava de dar. Queria tatuar-me com a Alegria que não tenho, enquanto ao fazê-lo tiraria de mim, os espinhos que me corroem as veias, fazendo-me sangrar as lágrimas que trago cá dentro.

Tudo o que temos cá dentro é um somatório das medidas inegáveis de dor e tristeza que acumulamos até ao dia de Hoje. E hoje tenho-o o baú cheio deles... e não tenho meio de o esvaziar.

Perdi as chaves- mestras de Mim próprio e não encontro maneira de fazer nova chave. Talvez porque a Fechadura é rara, ou não existem chaves capazes de a voltar abrir e deixar que todos os pormenores que me habitam voltem a ver a luz daquilo que brota no exterior. Serei talvez, alguem condenado a ficar no quase, enquanto os meus meios quases me vão destroindo enquanto penso o que queria querer, quando vou tendo o que não quero.

Se pudesse, re-inventava-me por mais um Dia...

... o suficiente para abrir a minha Porta...

... e terminar as minhas linhas!

Apenas eu, Hugo!