Monday, November 27, 2006

Sem título #1

Estou para mim como um raio de um trovão perdido no céu. Aquele clarão que nos ofusca ao cruzar da esquina é o mesmo que me deixa aqui perdido de mim, no perdurar dos sentidos e das coisas que me vão fazendo sentir o que não quero. Estou-Me como um soldado que desertou, perdido numa ânsia de lutar, sabe-se lá porquê, querendo que os atropelos de um alma inquieta cessem, para que a Vida possa passar sem quimeras. Estou aqui hoje, em frente a um caminho traçado, por lápis de traço frágeis, talvez os mesmos lápis que me vão mantendo acordado, no percorrer dos dias e no amargurar tique-taquear das horas em que me aturo.
Do alto dos olhos verdes, vejo aquilo que a Mente não quer ver, tentando adoptar o carpe diem como lema, e o day by day por rotina, mas ainda assim sinto demasiado cobarde para assim viver. Sempre fui homem de ambições, de lutas, de conquistas e de Tudos em projectos feitos no interior do que Sou, e hoje, qualquer, traço se confunde com um qualquer esboço de coisissima nenhuma, com nenhum sentido, pintado em lado nenhum. As paredes do quadro jorram a humidade que me fere. A humidade que me está nos olhos como um cancro que não me larga, como que cristalizando a mim a dor que me encarcera nesta Vida, que não quero minha. Sinto em mim o grito feroz de mil almas, as almas que passam por mim e não me ouvem gritar, quando aquilo que quero é chorar no colo de alguém, para aí finalmente poder dizer que sou autêntico e consegui, ao menos aí, chegar ao fim dos dias com o sentimento do dever cumprido.
Sinto-me a afogar num rio, que me leva cada vez mais para longe, e sinto-me a não ter pernas para conseguir voltar. São horas em que a mente distrai do Ser, que o falhanço do que vou Sendo me bate à porta e me deixa amedrontado comigo mesmo, como que me julgando enlouquecer. É a tremura dos dedos, os risos perdidos no vão da escada, o peso na barriga... esse mesmo peso que me faz carregar toneladas todos os dias, como que de uma dor pintada a cera, aqui tatuada na minha pele...
Vivo-me com a coroa de espinhos. Os espinhos da minha tristeza são os que me colocam o coração nesta ânsia, que não sei explicar. Este estado que não percebo, este semblante que teimo em não entender. E ainda assim, vou todos os dias vestindo a pele do lobo para que o lobo não me coma e finjo que, afinal, pensamos apenas naquilo que queremos....
Se eu pudesse, reformatava-me. Re-inventava-me. Talvez aí pudesse ser aquilo que nunca fui, pensar da maneira que nunca pensei, tornar-me naquilo que nunca me tornei, e estar da maneira que nunca estive. Se não o posso fazer, vivo-me na ânsia de um dia me metamorfizar, e ver no sorriso de quem habito, seja lá quem seja, a certeza de ao menos eu conseguir estar para essas pessoas. Até lá vou continuar a ser, aquele que sempre ri quando chora, o que sempre está bem com a bomba atómica dentro, o que podia ter sido e não é, porque não há melhor metáfora para me definir, do que a do puzzle a quem há-de sempre faltar a peça final.
Escorrem-me estas palavras como ânsias de um destino perdido, ou de uma Vontade extrema que as coisas que digo sejam apenas um estado delirante. O estado em que as palavras perdem o tom, e o ridículo toma conta daquilo que fazemos, dizemos e sentimos. Não serei eu ridiculo? Não estarei eu mesmo a cair no ridiculo estando assim? Costumo pensar que o maior acto de estupidez e ridicularidade que alguma vez fui capaz de ter, foi pensar-Me. Ainda assim, consigo ser-Me rídiculo todos os dias. Paradoxal.
Vou limpar as paredes da humidade que escorre. Vou fechar-Me, para que não me abomine no calor desta Noite gélida. Vou deixar de ser o rídiculo que se ridiculariza, ridicularizando-se na rídicula epístola daquilo a que costuma chamar a espaços de Vida. Se calhar, devia apagar a Luz...
Apagar-Me a Luz...
Apenas eu, Hugo!

Saturday, November 25, 2006

(As)Sentimento

É gélido o ar que toco. Nefastas as arestas daqueles contornos de alma com que toco no acordar de hoje, perdido em montanhas de ansiedade, de uma Vida quando julguei que era a minha.
Seco-me nas entranhas do que penso e, vejo-me, percorrendo os trilhos de fronteiras alcançadas, com sentidos que se esvaíram, como se estivessem num bolso de umas calças quaisquer.
Habito-me, estando perdido de mim mesmo, e mesmo assim sofro-me por Me saber. Gostava de colocar esta ansiedade lacónica, no balde do lixo, e mostrar a mim mesmo, que posso parar esta bomba relógio de sofrimentos mil que me acorda todas as noites.
Vejo-me ir, ao calor de um pêndulo que não perde o prumo, para um mar, em cuja bussola perdi faz tempo. Vejo os dias dizerem adeus ao final da tarde, com a secura dos lábios entranhada em mim, e naquele gesto de quem desiste, vejo-me a deixar cair os braços, como se o Mundo me tivesse desabado.
Acerco-me das janelas para ver o frenesim da cidade. Ver os embulos perdidos daqueles que habitam os espaços que vagueio e, tentar, pelo menos num segundo, ser feliz como eles.
Cada vez que me sento é como se o Mundo tivesse parado de rodar. Vejo tudo o que toquei, toco em tudo o que quis, e mesmo assim tenho aquela sensação vazia de estar não estando, de sentir não sentindo, ou simplesmente ser apenas mais um puzzle cuja peça final, afinal, anda por aí nas ruas perdidas nas mãos de um coleccionador de sonhos.
Na Verdade da Mentira vou encontrando o meu descanso. Perdendo-me nos toques da almofada, e enganando aquilo que sinto, como simples mentiras somáticas, para que o SER não me fira. Vou-me elogiando no silêncio, mentindo-me no silêncio, sentindo-me no silêncio... morrendo-Me no silêncio.
Dou passos, caminho na Noite da minha Vida, perdido de sentido. Sinto-me como um animal rotineiro, cujos passos a seguir se sabem, mas cuja racionalidade ou sentido perdi faz tempo.
Chorar, gesto tão trivial para quem sente a Dor de um algo, tornou-se para mim algo vazio. Perdi-lhe o sentido, perdi-lhe a noção e hoje como que um bloco de um não sei quê, sou-me, movido sei lá por quê, querendo sei lá o quê, tremendo e acordando sei lá porquê.
O Amanhã virá depois do Hoje, mas virei Eu depois de Mim? Ou será, novamente, o que Foi hoje que Será amanhã?
Vou fechar a janela da Alma e dormir-Me na Cama do Meu Não sentido.
Apenas eu, Hugo!

Tuesday, November 07, 2006

Rir chorando...


Nefasto e antagónico, rir chorando por dentro. É como ter o Sol nos dedos e a Chuva no Olhar a cada pequena palavra que digo.
Saí hoje à rua, com a alma fechada e os olhos abertos para o que a Manhã me trouxe. Na esquina perdida de toques, dei-me a sentir a brisa que traziam as coisas que passam, por entrem os esguizos veementes daqueles que me cruzam e me fitam, por entre ruas vazias de Tudo e Cheias de Coisissima Nenhuma.
Ouço-me Rir enquanto Choro. Choro enquanto Rio, e até aí me acho claramente no rídiculo. Talvez aquele pedacinho de Mim que me faz rir, quando os olhos estão repletos de espinhos e interrogações, está hoje, a trespassar-me, a cada pedaço de pensamento que tenho.
Sinto-me opaco e vazio. Aquele ponto em que se cair ao chão parte. Não penso, não creio, não acredito e ainda assim sinto-me à deriva por um Mar cujo prumo perdi.
O tacto, que outrora me ia nos dedos, perde-se a cada respirar e nada mais se me aflora, senão o meu sorriso rídiculo e as pessoas que sorriem daquilo que digo. Ora reconhecendo-me como aquele que diz coisas giras, ora julgando-me como a pessoa que sabe muito (ou pelo menos, assim vão julgando a espaços). Cá dentro, a turbina de coisas nefastas faz questão em continuar a funcionar e moer-me até à última sôfrega batida de um coração mais espinhado e vincado do que alguma vez vi na Vida.
Encontro-me na antítese entre os paradoxos e paradigmas. Aquele meio termo, de um saber que não se sabe, enquanto a humidade vai crescendo nas janelas e pondo-me cabelos brancos na cabeça. Aquele olhar que raiava a quem o via, hoje não é mais que uma fusca e trémula luzinha, prestes a sucumbir a uma dor que não vai tendo fim, mesmo que as noites se apaguem ao virar da esquina.
Sou-me, porque tenho de me Ser, mesmo não querendo Ser-me desta forma. Mas ainda assim , niguém me dá forma de ser de maneira diversa. É aquele Sonho do que nunca foi e nunca poderá ser, que vai destruindo as Lembranças de um Futuro que jaz no Passado, atolado em coisas que matizam e vincam a Alma trocidada até mais não.
Carrego na barriga a ânsia de mil anos, presa por fios de nylon. Aqueles fios que teimam em não quebrar, para que a dor me vinque, me defina, me corra nas veias, e me mostre, que afinal é possível rirmos e fazermos rir, mesmo chorando cá dentro. A cada toque, a cada olhar, a cada pedaço de coisas comesinhas vejo-me a sucumbir num pântano senil, de índole vária, onde cada realidade parece a miragem da mente, perdida por entre mil neurónios esquizofrénicos.
Perco aquele pequeno Mundo e pequena ânsia que me marcava e pinto-me a papel químico, como se da Dor, eu próprio me tratasse.
Hoje, o sorriso, o sorriso que dizem ter, deu lugar ao reconhecimento da fragilidade, e a máscara caiu.
Porque por detrás de um grande Homem está uma grande Mulher, por detrás do MEU SORRISO está a MINHA TRISTEZA!
Apenas eu, Hugo!

Saturday, November 04, 2006

Ares do Sul


Todos os toques e olhares que ficaram presos no adeus, jazem na lembrança do que poderia ter sido. O simples adeus que não se teve, esbarra na indiferença daquilo que vai existindo em cada madrugada de um escuro, que põe pó nas paredes das casas.
Vêm-se as ruas esburacadas, onde os corpos se perdem na vontade das noites velozes, em que os pêndulos das miragens de um SER mais completo se partem no marcar do passo mais incapaz que alguma se foi tendo.
Diante mim, o sonho, a vontade, o Destino de um caminho que ficou a meio, ou simplesmente não se soube completar jamais.
Vou-me sendo, emburcado nas entranhas daquilo que vou abarcando a cada inspiração, não pensando naquilo que vou expirar. Vivo-me como um trocadilho que não encontrou a rima, naquela esquina do Chiado, onde as paredes parecem desabar e o Mundo se torna mais pequeno.
São os tique-taques de uma Igreja perdida na Baixa, que me acordam a alma para o sentir. Aquele sentir, cuja definição se perdeu em miradouros e extractos similares, de uma cidade veloz e alienada, de sentires complexos, naquele pedaço de chuva que se apanha quando a Alma está demasiadamente despida para se guardar.
Aqui, diante, de uma paisagem que pintei outrora, vivo-me como personagem de um livro por inventar, perdido nas ruas e encontrado nas vielas, matizando os toques, valorizando os odores e perdendo-me até onde os sentidos me levam.
Vi, através dos olhos com que abraço o Mundo, a esfera que envolve Lisboa. Aquela esfera que faz com que esteja iluminada vinte e quatro horas por dia, como que se de um Ser alado se tratasse. Porém, qual luz ilumina aquilo que não tem luz? Que luz é essa que ilumina o que não é iluminável? O que é ter Luz?
Sei-me, não me sabendo, tentando saber-me todos os dias. E todos os dias me sei menos. Talvez, por não ser suposto saber-me. E, mesmo assim, tento Ser hoje mais que ontem, e sentir-me mais completo que aqueles puzzles, cuja peça final se perdeu, no virar da esquina, num dia de vento frágil, esse mesmo que lança a noite sobre os telhados.
Trago-Me, nos olhos, e Perco-Me nos dedos. Perco-me para me encontrar...
Mas não me encontro, senão atolado na gélida Vontade de sentir o que não quero, na imensidão de um Vento gélido... e frágil...
Apenas eu, um portuense-lisboeta, Hugo