Monday, October 29, 2007

Olhar no espelho... Versão musical

Sunday, October 28, 2007

Olhar ao espelho...

Há em mim uma súbita vontade de explodir por vezes.As palavras essas abundam-me na mente, como que punhais querendo rasgar o Mundo e encontrar o caminho próprio do sentido que têm.Entre o Mundo e elas, jaz o meu Mundo vivido, sempre superior ao Mundo pensado.
São esses os estilhaços de um vidro ténue que me habita, quando a luz e o som ecoa nas salas da Vida, onde os meus momentos se acumulam, as dores sangram e os olhos transbordam.
Sento-me, aqui na minha mesa de vidro, perto da janela de onde fito o Mundo, sentindo os barulhos mundanos de pessoas e aviões que rasgam o Céu. Com a alma ferida, os dedos trémulos e uma alma que não sabe o nome, deixo as palavras transbordarem do Mundo pensado para a ténue fragilidade de uma folha de papel. A folha que as guia, rumo à luz dos olhos de Alguém.
Sempre fui pessoa de fazer síncopes, sínteses e antíteses mas olhando bem à minha volta, hoje a única antítese que me sai sou eu Próprio. Olhar ao espelho, de manhã, à tarde, à noite, transformou-se não na rotina, mas no desafio da Imagem que gostava de ter e me vai escapando como Tempo de Areia, que o vento leva na brisa de um fim de tarde de Outono.
Dizem sempre os que se julgam mais audazes no conhecimento que têm da vivência mundana, que sou novo, que as coisas que sinto são coisas do mais saudoso idoso no fim de vida, mas eis que continuo ano após ano, estação após estação, conquista após conquista, com a mesma e indelével saudade do que não tive e com a vontade de ter o que não tenho. Pergunto se a conquista que me move, o enegrecer dos olhos que me motiva, ou antes as lágrimas que me abundam quando os olhos se fecham no movimento do Adeus de mais um dia que ficará preso nas masmorras da Mente.
Da perturbação dos olhos, renascem os fantasmas de um caminho latente por uma estrada perdida, encontrando-me sempre num sinal entermitente de uma estrada que me leva a lado nenhum. Sou assim o peregrino tatuado de medos, cheio de vontades de utopias e de feridas que teimam em sarar. Dos tormentos mundanos, aos perigos de uma voz interna que não se cala, afloram os olhos como a parte primordial de um corpo cada vez mais frágil, cada vez mais dado ao Mundo como se dele necessitasse, e cada vez mais parco nas palavras que consegue escrever.
Hoje, as palavras transbordam como a água num copo cheio. Deixo-as sair, num rasgo de luz ténue que me ilumina a face e me permite sentir através dos dedos com que escrevo. Na mente dos que me lêm , provavelmente o nexo e o sentido da mensagem que procuram neste texto há muito que se foi, mas hoje escrevo apenas furiosamente para que as palavras que me apunhalam possam ganhar vida própria e deixarem de me tatuar as entranhas com facas de gume afiado.
Gostava de partir o espelho. Gostava de me re-inventar, re-inventar a roda, o Mundo, as coisas... Fazer uma reformatação do que quero, sou, como penso, e onde quero chegar. Talvez assim sendo, e baixando o patamar, o que alcançarei será sempre o melhor dos Mundos, porque a quem não sabe o que quer, qualquer coisa serve.
Hoje, choro-Me... Hoje, vejo-Me... Hoje, não Me re-invento... Hoje, espelho-Me, tentando espelhar o espelho da minha alma...

Porque a vida é o Momento e o Meu há muito que se partiu...

Apenas eu, Hugo!

Sunday, October 21, 2007

Para Ti... Por seres assim...



Encosta-te a mim

Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.
Chegado da guerra,
fiz tudo p´ra sobreviver em nome da terra,
no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem,
não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói,
não quero adormecer.
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.
Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.
Eu venho do nada porque arrasei o que não quis
em nome da estrada onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.
Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim

Jorge Palma