Sunday, July 12, 2009

Pontos e vírgulas


Começo a escrever na sombra de uma tarde que me diz adeus.

Sento-me na minha sala, com o horizonte como máximo e o meu recôndito refúgio como mínimo. No meio dos extremos, sento-me eu nesta tarde de Verão, tentando-me sentir naquele esforço eterno de compreensão que temos para connosco. Há metafísicas, metafísicos e ametafísicos. Gosto de me situar nos últimos. Aqueles que, pura e simplesmente, vão avançando no calendário com a certeza de ter valido a pena o dia anterior. Eu vou avançando no calendário querendo que o dia a seguir valha a pena. Provavelmente, este será o meu dos meus erros. Ainda assim, meu.

Perco-me por pontos e vírgulas como se perde um anão entre multidões. Encontro-me nas palavras, porque só elas me encontram neste fim de tarde. Enquanto os pontos e vírgulas me deixam falar, vou deixar escorrer o que as mãos me permitem escrever.

Sinto-me como o eterno adiado. O tal cuja fantástica paz da realização e do sorrir matinal para mais um dia, vai sendo, dia após dia, ano após ano, adiado. Como um desvio ao caminho normal que não mais retoma o rumo. Ainda assim, no meio de um desvario metafísico, chamemos-lhe assim, consigo ser lúcido ao ponto de saber que sendo lúcido sou lúcido demais para ser lúcido. É aqui que o nexo deste fim de tarde se esgota.

Dou pela janela para o Mundo que me habita lá fora, pois eu faz tempo que tento perceber porque o habito. O sentido de missão não me apraz concluir nada. O sentido do sentir esse sim me faz pensar e sentir, sabendo que as duas coisas são inimigas e ao mesmo tempo simbióticas.

Pensar e sentir sempre foram dois verbos fortes no meu existir. Ainda assim, hoje, não os consigo definir e perceber qual seguir. Não sigo nenhum. Talvez esse seja o segredo. Aquele segredo que a mundania permite, quando não se perde Tempo a escrever isto que agora me sai da mente.

Todas as ruas do Mundo dão para a minha casa, mas ainda assim sinto-me como uma Ilha perdida no Alto Mar. Sinto-me a Ilha que gostava de ser Península: ligada à felicidade.

Ainda assim, continuo a vaguear, perdido em Mim, talvez o pior dos sítios onde me posso perder. Gostava de conseguir não me perder, encontrando-me nas pequenas peças do pequeníssimo que sou. Mas ainda assim consigo ser mais complexo que um qualquer axioma que se pretenda demonstrar.

Vou continuar, eternamente, perdido em Mim. Não sei se alguma vez conseguirei ter a paz de espírito de quem encontrou a sua Razão. Não por loucura, o desejo, mas antes por um questão de paz. Essa que é a Utopia de todos nós.

Mas hoje... hoje, perco-me por pontos e vírgulas...

... para que, finalmente, alcance o meu ponto final.

Hoje, Apenas eu, Hugo.

Sunday, July 05, 2009

Jornada


Gostava de saber como seguir um rumo sem o perder. Talvez conseguisse, nesse momento, pensar aquilo que devo sentir e não sentir aquilo penso.
Hoje, vivo com os dois pés assentes na terra e com a loucura a tomar-me conta da mente. Preciso de encontrar o trilho, o tal que as pessoas lutam, o tal que as pessoas almejam, o tal que faz o sorriso brilhar todos os dias da semana.
Dou por mim levado em castelos de nuvens que o Sol não afasta nunca. Ora, sentindo as coisas leves e sensacionais como se novidade fossem, ora sentido o doce carregado fel que a tristeza ancora, vivo sufocado pela dor, que a minha barriga carrega e a pele traz tatuada.
Sou, mesmo em Lisboa, alguém que luta contra o karma de não ser vencido pela vida, mas sim vencer na vida. Vivo pela conquista da minha paz, a tal que me faz descansar à noite, sem os pesadelos nefastos que afastam de mim os sorrisos. Gostava de poder trazer ligado a mim o sorriso que os vencedores albergam quando a conquista é efectiva, mas afinal sou ainda o projecto daquilo que devia ser mas que provavelmente jamais será.
Jamais será aquilo que projectava, porquanto não se consiga nunca ser aquilo que se almeja. Mitiga-se o que não se tem, com o que se vai tendo e ainda assim não se mitiga o suficiente para nos sentirmos mitigados. Mitigando, mitiga-se o que não se mitiga.
Sofro-me os dias, como se de peregrinações estivessemos falando. Peregrinações de vontade, levando-me a lado nenhum. Ao vazio, talvez. Esse que fica confinado entre quatro paredes, numa noite escura, onde só Tu e a Mente habitam numa comunhão quase perfeita. Nesses momentos, em que as minhas pequenas e fúteis peregrinações chegam ao seu vazio, enfrento-Me como se fosse o meu pior inimigo.
E, de facto, hoje em dia cada vez mais me vou convencendo que o meu maior inimigo sou eu próprio. Eu próprio por ser Eu, da forma que sou, do modo que Sou e da forma mais vil como me magoo e firo a mim mesmo. Ainda assim, não consigo deixar de parar de me magoar, e deitar contra a parede. Teria o Mundo ao cruzar da esquina se a futilidade de Mim próprio, se desfizesse na luta contra aquilo que posso Ser. Ainda assim, consigo dar mais valor às tristezas e infelicidades que vou tendo, do que àquilo que vou alcançando.
E os anos vão passando... e sempre esta estúpida dor... a tal que os comprimidos não tiram. A dor de pensar que quero triunfar e não olhar para trás julgando que algo ficou por fazer. A dor de sentir que algo está sempre mal. A dor de pensar que o Meu Inimigo afinal sou eu próprio e ainda assim incapaz de me mudar, jamais.
Hoje permito-me parar a luta ainda que por momentos. Para que as palavras jorrem, como rios correndo para o Mar. Eu paro a luta, antes de voltar ao fim das minhas peregrinações, para recomeçar onde as mesmas acabam.
Por isso, hoje luto contra Mim, para que eu próprio não me vença... ou me renda.
Apenas eu, Hugo.